Crítica: Torres Gêmeas, de Oliver Stone
Muito já se comentou sobre o fato de Steven Spielberg ser o grande responsável por um processo chamado de “infantilização” do cinema americano, a partir de ET – O Extraterrestre (1982). Ao assistir Torres Gêmeas (World Trade Center, EUA, 2006) a impressão que fica é que o diretor Oliver Stone resolveu surfar nessa onda criada pelo maior cineasta de todos os tempos. Será que é uma atitude acertada lançar um filme sobre um acontecimento histórico ainda fresco na memória das pessoas, e cujos sentimentos extremos decorrentes ainda não foram totalmente dispersados? Grande parte da critica levantou estas perguntas. A pressa em produzir Torres Gêmeas pode ter sido sua desgraça. Apenas observando o título é possível verificar a falta de criatividade que permeia todo o filme. Stone, que já havia sido muito criticado (acertadamente) por seu último filme, Alexandre (2004), prefere em Torres Gêmeas traçar o caminho mais fácil, o que torna o filme um poço de previsibilidade.
A objetividade, a falta de pudor e a crítica sócio-política aguda são marcas registradas da filmografia de Stone. Vide alguns clássicos, como The Doors (1991), Platoon (1986), Nixon (1995) ou Assassinos por Natureza (1994). Nada disso existe em Torres Gêmeas. O filme centra a história em dois policiais na tentativa de ajudar na evacuação da Torre Sul do antigo complexo de negócios situado em Lower Manhattan logo após a colisão dos aviões em 11 de setembro de 2001. Ambos policiais ficam soterrados no prédio 5, quando o primeiro dos edifícios que compunham a paisagem da ilha nova-iorquina vem abaixo. Assim, é esmiuçada a luta desses homens para sobreviver e a aflição enfrentada por suas famílias.
Infelizmente os lugares comuns e o fator “Maria do Bairro” se fazem presentes. Num filme ruim, quais são as últimas palavras que inevitavelmente um pai de família herói dirá à beira da morte? Pensou? Pois em Torres Gêmeas essas palavras são proferidas à exaustão e para o constrangimento do público. Apesar do desempenho razoável, Nicolas Cage e Michael Peña (que interpretam os dois policiais soterrados) são obrigados a dizer frases melosas, que só emocionam a quem assiste um filme por ano ou está indo ao cinema pela primeira vez. Uma boa atriz também é desperdiçada, Maggie Gyllenhall, no papel da esposa grávida do personagem de Michael Peña. Mais lugar-comum que isso impossível. Apesar de a intenção não ser produzir mais um exemplar do cinema-catástrofe, os poucos efeitos especiais mostrados são apenas comuns, nada excepcional..
A edição de som, porém, é competente, e os efeitos sonoros são realçados por um sistema de som de qualidade, especialmente nos instantes em que os prédios desmoronam.
Oliver Stone errou feio ao se desviar do que realmente sabe fazer; em Torres Gemeas não há resquícios das questões políticas que motivaram os atentados terroristas contra os Estados Unidos em 2001 ou que foram levantadas por eles; não há a visão mordaz da sociedade estadunidense e o americanismo consciente de Stone. Sobrou apenas o patriotismo enrustido e o dramalhão idiota e exagerado. Espera-se que Stone consiga sair deste espiral descendente iniciado com Alexandre o mais rápido possível e retorne aos melhores momentos.
Notas (numa escala de 0 a 5):
– Imagem: 3
– Som: 4
– Geral: 2
*Imagens: Rotten Tomatoes, Empire Movies
*Trailer: